VIRADOURO, AGAIN

No momento em que escrevo essas mal traçadas adentra na Sapucaí a escola Imperatriz Leopoldinense acompanhada de toda aquela apoteose palavresca dos Zés e Marias Ruelas da rede Globo que se superam a cada ano em obviedades e patéticas frases feitas emoldurados em camisetinhas coloridinhas informaizinhas. Triste enredo. Mas quero falar no assunto "desfile de ontem" que a essa altura já é velho mas que pode virar novo se a Viradouro e seu enredo " É de arrepiar" emplacarem o campeonato, como eu espero. Paulo Barros, o carnavalesco da Viradouro de Niterói, superou a censura tosca que lhe foi imposta pela justiça carioca ao levar em conta pedido da Federação Israetita que argumentava que o carro alegórico que simbolizava o holocausto desrespeitava os judeus. Paulo e seu grupo colocaram então no lugar do carro censurado uma porção de pessoas com a boca amordaçada mais Tiradentes , amarrado e de cabeça baixa. No carro os cartazes "Liberdade ainda que tardia" e "Não se constroi futuro enterrando a história" . A segunda frase, aliás, muito mais oportuna e menos demagógica que a primeira, resumindo com classe a indignação da comunidade que viu seu trabalho censurado. O assunto já foi tema de post anterior mas eu quis voltar à Viradouro, cujo desfile acompanhei todinho, apenas para dizer que , também pela estúpida a arbitrária censura, estou torcendo por eles muito embora minha visão do carnaval oficial carioca seja paradoxal. Ao mesmo tempo que acho que é um espetáculo do qual o povão se mantém afastado ( a não ser os que se encaixam nas cotas que as escolas oferecem pra comunidade pagando grana alta) por outro lado é um espetáculo cada vez mais deslumbrante do ponto de vista pirotécnico tanto pra turista como pra brazuca ver. Evidentemente que com o audio da tv Globo bem baixo pra não ter que ouvir as patuscadas dos repórteres/comentaristas.

Comentários

"Não se constroi futuro enterrando a história". Também achei muito boa essa frase, Ricardo. Me lembrei de um DVD que assistimos na pós, outro dia, onde o cara, um "conceituado teórico de pedagogia", mandava esquecer o passado e prestar atenção no futuro. O curioso é que o cara passaou o filme todo (uma meia-hora) citando um monte de gente pra legitimar sua visão: Voltaire, Nelson Rodrigues... todos do passado. Ou seja: tremendo zé ruela.
E a coisa do áudio da globo também. Me lembrei da copa, o pessoal lá onde assisti propondo abaixar o som pra não ouvir os comentários chatíssimos do mala do Gavião Bueno. A globo é praticamente um bagageiro... rs

Abraço.
Sig Mundi disse…
Essa frase foi boa!
Pensando bem, é bem patético, porque proibindo seja lá o que for, fica tão marcado o assunto, e acaba sendo "legal" pra escola. Quem é que não se lembrou do Cristo/Joaozinho Trinta?

Mudando de assunto. Tem feito um solzinho por aqui. Nem dá pra acreditar, tem luz do sol!!!. Mas não se empolgue, continua frio (sensação -6C)

bjs, andrea
Anônimo disse…
Oi Ricardo ! Muito legal a ideia da Viradouro.

Esse ano estou conseguindo passar o carnaval sem ver absolutamente nada e estou feliz por isso. Eh impossivel, estando no Brasil, nao se contagiar por essa festa, que deveria em principio ser para todos, mas como voce disse, esta cada ano mais cara.

Muitos beijos
Lys
Bianca Feijó disse…
"Não se constroi futuro enterrando a história".

Esse foi o legitimo tapa com luva de película.

...talvez tenham chamado atenção mais do que se não fossem proibidos, mas o que acredito ser o mais importante é que as pessoas saibam interpretar esta mensagem...

"ACORDA BRASIL"

Beijos Ricardo, adoro seus argumentos!
Anônimo disse…
Quero concordar com o blogueiro e com todos os demais comentaristas, em especial com o Marcelo.

E quero reforçar que, para não se enterrar a história, há que se ter, sobretudo, liberdade. De pesamento, de expressão e de imprensa.
Alexandre Core disse…
Foi um erro proibir o carro da Viradouro, e a saída do carnavalesco foi magistral.

Mas...com aquele enredo sem pé nem cabeça acho difícil a escola de Niterói levar o título desse ano. Vai levar nota 8 em enredo.
Unknown disse…
Não tinha assistido ao desfile, e tava MUITO curioso pra saber como eles iam se virar pra fazer um carro alegórico em 2 ou 3 dias. Não poderia ter ficado melhor! Uma criação bem simples, fácil de fazer e que detonou a idiotice da "justiça"!
Como você disse nos outros comentários, está aí a prova de que nossos carnavalescos têm muito mais criatividade que nossas "autoridades".
Salve Ricardo, abraço!
(indo pro YouTube agora mesmo, procurar esse vídeo)
Unknown disse…
Perdão pela falta de gentileza, mas... ca-ra-lho!
A Viradouro cumpriu muito bem sua promessa! Me arrepiei todo com as fantasias da guilhotina (muito boa!), das cadeiras elétricas, do carro... e fiquei muito satisfeito também com o pouco que pude ver dos outros carros (Kama Sutra, insetos e O Exorcista).

Mas realmente é foda escutar esses comentários globais... parece Hermes & Renato, mas não intencionalmente.
"Kama Sutra é um livro indiano (...) que explicava várias... posições... de... atos... amorosos."
hahahahaha!!!!!

E ele tentando desviar o assunto sobre o carro e fantasias da Liberdade de Expressão? Deu a parecer que a escola tá falando da Inquisição, quando é de toda forma de censura - inclusive nessa, quando os loucos eram decapitados.

Ah, enfim... quando começo a falar mal da Globo eu não paro mais :)
Abraço,
Interessante você colocar essa coisa de "desviar o assunto", Pablo, porque mostra que nem na "liberdade de expressão" se tem, necessariamente, liberdade de expressão.
Os interesses da grande mídia são muito maiores do que supõe nossa vã democracia...

Abraço
Anônimo disse…
Para tornar palatável a transmissão dos desfiles era só desligar o som da tv e ligar o rádio na Jovem Pan.A mesma tática deve ser usada em jogos de futebol e afins.
Esquisito, né? Rádio transmitindo um espetáculo excencialmente visual. Pois eles conseguem em grande estilo, numa transmissão leve, alegre e muito divertida. Carnavalesca , enfim.
Impressionante o Vanderlei Nogueira, para mim o melhor reporter esportivo do Brasil.O cara transmitiu os dois desfiles de SP, os dois do Rio e ontem de manhã já estava em SP para a transmissão da apuração do resultado, ligadão. E tinham na equipe do Rio o Israel Ginpel, um dos caras que mais entende de samba, e vive o dia-a dia das escolas, seus personagens, suas quadras. Deram um banho de informações na tchurma da Globo, que quando muito frequenta, durante o ano, apenas camarotes de diretoria ou de patrocinadores...

eh, eh, não sou parente nem conheço os jornalistas que citei, apenas aprecio trabalho muito bem feito.
Salve, rm.
Concordo com você.
Mas não acha que o fato de que não podemos fugir do passado não é um indício de nossa limitada liberdade?

Abraços
Unknown disse…
Marcelo, não devemos contar com a Globo, Veja, ou a fins. Às vezes é melhor ignorar eles e nos preocuparmos em construir nossa própria mídia, seja massiva ou segmentada.

Quanto à última pergunta, penso que na verdadeira e utópica liberdade, não nos preocuparíamos com passado ou futuro - por motivos lógicos mas que não sei quais são. Mas pra chegar perto disso (só perto, mesmo porque como certa vez disse uma amiga minha, a liberdade é tão livre que não se permite ser conquistada) precisamos rever todos os nossos conceitos, primeiro individualmente e depois coletivamente. Enfim, utópico. Mas não custa nada pensar. :)

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