JABOR E A OPINIÃO PÚBLICA

Jabor é entre os criadores brasileiros um dos que mais me incomoda. Sobretudo pelas relações paradoxais que me inspira sua vida e obra. Assisti nos últimos dias os seus dois primeiros trabalhos , o curta-metragem "O Circo" e seu primeiro longa ( documental) "Opinião Pública" que talvez tenham sido fundamentais para eu ter ( ou não) uma opinião fechada sobre a obra dele. Vi sua cinematografia completa e dou um exemplo do paradoxo. Jabor  consegue fazer o sensacional "Opinião Pública" de 1967 que apreende o que se passava pelos corações e mentes da classe média no período pós 64 com um vigor branco e preto invejável. Tudo ali flui, tudo ali está imerso num clima verdadeiro e sem grandes pretensões. Esse mesmo Jabor pouco mais de uma década depois consegue fazer os insuportáveis discursos onanistas intelectualoídes de "Eu sei que vou te amar" e "Eu te amo" depois de fazer os muito bons "Toda Nudez será Castigada" e "O Casamento", baseados ( muito bem) na obra de Nelson Rodrigues. Não, não , não busco coerência em Arnaldo Jabor porque ao artista não se deve cobrar coerência como dizia o Glauber Rocha, contemporâneo de Glauber. Talvez pois se eu tiver em mente esse conceito glauberiano possa ter definitivamente bons olhos pra Jabor, esse criativo brasileiro que ao mesmo tempo tem a coragem de falar que o "Brasil é um país de canalhas" em 1977 (quando o consenso a esse respeito ainda parecia novidade) e anos depois assume a postura de voz oficial da rebeldia consentida quando desfila sua indignação bem penteada e bem vestida nas páginas dos vetustos jornalões e na nave-mãe global .Pois então o que é Jabor ? um incendiário ou um vendido ? um herói ou um bandido ? Talvez tudo ao mesmo tempo aos olhos da opinião pública. A mesma  que ele radiografou em 1967. 

Comentários

Ricardo, muito bom ler seu blog. Estava precisando de um pouco de ideias, e vou tentar buscar este documentário... Arnaldo Jabor, sei muito pouco sobre ele...
Obrigada!
Grande abraço
Ricardo,

O Jabor global já não me interessa mais. Também concordo com suas críticas a alguns de seus filmes intelectualóides. Mas considero o "Tudo Bem" uma obra-prima.
Gosto do Jabor porque ele não faz parte do jogral da chatice politicamente correta. Ele tem vida própria e isso é fundamental. Vida longa ao Jabor.
Marcelo Camargo disse…
Ricardo, o Jabor é o rebelde a favor!

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