TERRA DEU TERRA COME

     Eu poderia escrever sobre esse documentário como uma carta aberta ao seu diretor, Rodrigo Siqueira. Poderia escrever como um pobre arremedo de crítica já que outros, mais notáveis do que eu,já dissertaram a respeito. Poderia ainda escrever como um colega de ofício, como um espectador ou como o caro amigo da irmã do diretor a minha querida Ana Paula Siqueira. Se não optei por nenhum modo é porque na verdade quero escolher bem as palavras para definir meu deslumbramento diante de "Terra Deu Terra Come" que fica em cartaz aqui no Espaço Unibanco 1 ,rua Augusta, sessão das 18 e 10 até dia 1 de novembro.
     O prezado leitor pode imaginar que o simples fato de um documentarista achar um personagem único e sensacional (como o caso do Pedro de Alexina desse filme) já basta para tecer uma bela narrativa. Lógico que isso ajuda mas não garante nada não fosse o Rodrigo deixar seu protagonista mais do que a vontade, totalmente solto em seu próprio mundo, para que nos colocasse diante de suas verdades e mentiras, delírios, mitologias e fascínios. Dizer que "Terra Deu Terra Come" é apenas uma mistura de documentário, memória e ficção é muito pouco. A habilidade de seu diretor foi nos conduzir de maneira simples e sem rodeios a um universo que se perde entre o real e o imaginário,entre o passado, o presente e o futuro que amordaça as tradições. Como bem disse meu filho Guilherme , que viu o filme comigo, todo o relato desse documentário lembra um conto do Mia Couto. Também me vi numa aldeia de umbundus em Angola ou mergulhado nas feiras na beira de estrada na direção do Sumbe. Definir esse filme simples e belo é um convite a mergulhar em clichês, sucessão de adjetivos inócuos que nada acrescentariam. Prefiro pois levar a ele uma comparação que fez certa vez Fernando Sabino em relação à literatura. Dizia ele que escrever simples é muito dificil. Pois filmar simples e bonito como fez o Rodrigo é muito dificil também. E ele conseguiu. Mesmo quando entra em quadro ao lado de seu protagonista - ele tem vaga semelhança com o ator Caco Ciocler - ele não é invasivo. É respeitoso e ajuda o desenrolar da história. Deveria dar aulas a respeito para nove entre cada dez repórteres televisivos. A lamentar apenas o longo caminho de pedras que Rodrigo teve até a conclusão do seu trabalho justamente premiado em Gramado e no festival " É Tudo Verdade". E por falar nisso filmes como o dele deveriam passar nos canais abertos para que a gente conhecesse o Brasil de verdade e não aquele editado e programado pelos profissionais da Globo. Em diversa proporção Rodrigo Siqueira fez o seu "Grande Sertão". Que suas  veredas sejam longas e iluminadas.

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