ULTIMATO

O último não é um ultimato mas pode ser a primeira de muitas chances de recomeçar. O último gesto de perdão antes do ano acabar, o último a ultrapassar e superar a barreira da guerra, o último a deixar cair por terra o orgulho. O último a remover o entulho e a caiar a casa , o último a dar asa à boa imaginação, o último a recordar uma canção antiga, o último a ter o saudável frio na barriga que prenuncia uma nova descoberta.
   O último a deixar o estado de alerta e desarmar a alma, o último a nutrir com calma a calmaria, o último a deixar rolar a fantasia , último a desfilar de braço dado com a alegria. O último depois do goleiro a olhar a bola na hora do penâlti, o último a ganhar um beijo de despedida quando o avião está de partida ou o último a ganhar um beijo após a chegada. O último a não enxergar nada no vão da escada, o último a rir do monstro da infância , o último a comer a fatia do bolo, o último a matar piolho, o último a escorregar do balanço, o último a se sentir prisioneiro muito mais que ser pioneiro em ter liberdade. O último alheio à própria vontade, o último a alcançar, morder, exibir, escancarar a felicidade como se fosse enfim o primeiro. De janeiro.

Comentários

O melhor de tudo é que já está escrito: 2011 será ímpar.
Beijo grande prá você, meu querido.
ANA LÚCIA disse…
Bom começo para você de um ano que promete. Boas vibrações!
Bjks,
Ana
Anônimo disse…
Belissimo texto. Compartilho muito dessas suas impressoes, sinto as vezes o mesmo quando rodeado por sao paulo, pelo centro da cidade, quando tambem a observo de algum balcao de boteco. Muita gente miseravel nas calcadas. Digo as vezes pois alguma coisa mais me toca, ha aqui e ali algo sublime, alguma lembranca antiga em meio a tudo isso, num tecido qualquer de um vestido de uma senhora que saiu com os netos do Braz, que lembra as estampas de minha falecida avó. Mas isso sao memorias, nem sei ao certo se vi isso, mas vejo coisas sublimes que como dizia quebram essa aspereza do que se ve ali no cento.
Sou do interior de sp, morei aí alguns anos quando estudava faculdade. Andei muito pelo centro sem dinheiro no bolso. Depois de formado e trabalhando fora dai, vinha pra passear, com dinheiro no bolso, e me diverita um pouco mais caminhando pelo centro, olhando as fachadas, a geometria dos edificios, numa tarde ensolarada. Paredes coloridas ou com bolor, meus olhos deslizavam e eu me distraia, contente.
Anônimo disse…
Estou morando agora fora do brasil, estudando para meu doutorado, no canada. Estou aqui ha um ano, montreal é a cidade onde vivo. Nao ha pobres nas ruas, ambientes decadentes há, mas sem prostituicao ou algo como o que acontece ali pela roosevelt que descreveste acima em outro post. Motoboys ganhando miseria entao nem se fale, nao existe isso aqui. Ha exploraca coisa e atl, mas nada que se compare ao brasil. Brasil mesmo, depois de um ano aqui, me pequei outro dia escrevendo isso em papel, quando mandava uma carta com felicitacoes de fim de ano para os meus pais, e o sujetio do correio me perguntou o nome do pais para confirmar, e eu disse sim, brasil. Essa palavra soou tao estranha na minha boca, nao referia a um pais, mas alguma coisa como um abrasivo, um bombril, as silabas significaram em separado, e remeteram a outras coisas, objetos, nao a um pais. É como um nome a que se esta acostumado e nunca se para para sentir ou pensar a sua sonoriadade e a que ela remete. Mas o caso é que morro de medo quando tiver de voltar e me deparar com essa pobreza e abandono daí. Nao sou de amigos, essa coisa nos faz esquecer das agruras. Uma dentre as virtudes antigas é a amizade. Nao sei o que é isso.
Aqui em montreal só se ve pobre digamos, por opcao, se é que se tem controle emocional completo da vontade pela razao, o que nao é verdade. Os pedintes aqui sao pessoas que sofrem de algum disturbio mental, digo, depressao, dessa por que todos passam, mas mais forte, em grau mais forte, de modo que eles nao conseguem lidar com a realidade, emprego, familia, casa essas coisas. Ai pedem esmolas pela rua. A cada meia hora ou hora vc ve um desajustado desses, nao mais que isso. Que frequencia hein?! Mas o caso é que nao sei como vou me reabituar à pbreza e miseria que nos circunda, pois meu doutorado termina e daqui 3 anos volto. Apesar de ser daquela opiniao de que nao precisas mudar de ceu , mas de animo para enxergar as coisas, por vezes ainda acredito que tens de mudar de ceu pra mudares de animo.
Anônimo disse…
somos mesmo, concordo contigo, uma aberracao com amnesia, nada muda aí, ou muito lentamente, cheio de demagogias, digo essa coisa do social e das inclusoes que agora em fim de governo lula parece que colou por aí, pela impressao que tive vendo campnha da dilma pelo youtube. Nao sei, paro e penso, o que vem antes, a demagogia de pessoas na manutencao de poder ou interesse mesmo pelos pobres e distribuicao de renda? aquela vem primeiro, e me lembro de Cícero, de roma, onde já se tinha nocao disso, para conseguir legislar em causa propria, pega-se o interesse geral, do povo, e disfarca-se essa causa popria sob ele. é um pouco isso, mas nao cmpletamente, sei. Pois poderia se fazer mais pelos pobres, por distribuuicao de renda, escolaridade principalmente. Mas sabe-se que pra quem pega no batente estudo e instrucao nao é boa coisa, pois faz tudo desandar. Politico brasileiro com a meia ou duas duzias de empregados que mantem tem bem nocao disso. Aquela ignorancia e cordidalidade é mutio boa pra se lidar. Paga-se mal mas ama-se de coracao, como se fosse da propria casa, é alguem da familia. Veja-se: agregado. Essa é a nossa cordialidade que mantem na miseria, mas ama, com uma ideia de nacao. Qualquer politico sabe que se botar insturcao ai no meio a coisa desanda.
Exemplo: vai dar cantada numa garota dessas de educacacao de tradicao francesa aqui, elas sabem o quanto vale a buceta delas, nao é facil nao. Com a licenca da comparacao, tiveram uma revolucao francesa que ensinou pra elas o valor delas, com violencia, e nao vao fazer-se de menos nem vender o peixe mais barato por isso. Ai no brasil? amigo meu estrangeiro dizia, gosto daqui, nada funciona, a nao ser pra dar uma foda, nao ha burocracia nenhuma pra isso. Vc paga um drink pra menina, sorri, ela ouve meu sotaque estrangeiro e pronto, é minha por uma noite. Va pra italia ver, só casando elas abrem as pernas... Caracaturizo, mas é por aí...
Boa sacada a sua de falar das veleidades que tinhamos no inicio dos oitenta, e que hj sabemos onde elas foram dar...

tinha outras coisas que queria comentar, mas sou de me estender muito, e fico mesmo por aqui. Afinal, o meu melhor amigo é o papel.

abs ! parabens pelos textos !
Rodrigo Rocha disse…
Ricardo passei para conhecer seru blog ele é notº10, show, espetacular, muito maneiro com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom

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