Cadernos cariocas (1)



Diante de um crime delicado
não penso na pedra do Arpoador
pois as sensações evocam
cansaço, brumas do passado, calor...

sei que os ônibus se espatifam
no aterro do Flamengo
e penso sim num corpo
que desabou sobre as pedras
sob a avenida Niemeyer

a beleza não devia assim
se decompor despudoradamente
em meio aos golfinhos
que encalham na praia
ou diante da puta mais puta de Copacabana

"Aqui em casa", diz ela
não existe garota de programa

o céu tem limites
ali atrás do Leme ou no topo do 
Chapéu Mangueira
e eu perdi
o caldo de Humaitá
pois fiquei rezando para ti a noite inteira
na igreja do largo do Machado
onde o padre evoca mortos de Bagdá
enquanto eu sozinho flerto
com os vivos do jardim de Alá...


                                                             ***
Ricardo Soares
24 de março de 2009

Comentários

Postagens mais visitadas