O lado lentilha de nossas vidas...


Todo o casarão da Serra da Bocaina cheira bem . O tempo todo quando a turma se reúne para troca de açúcares e afetos nessa combalida corrida contra nós mesmos. Os afetos se condensam também ao lado do fogão de lenha onde cada um, do seu jeito, se empenha em cozinhar bem para os outros. Nem todos cozinham . Nem todos acertam sempre. Mas se empenham.
Depois ao redor da mesa, entre brindes, risadas, teorias de salvação do mundo, alentos e desalentos somos felizes ao percebermos em conjunto que a amizade é um balsamo, a cumplicidade um achado e o que sobra de nós mesmos é o melhor do que damos para os outros. Não é fácil partilhar a mesma nave hoje em dia. Não é facil ser feliz sem ter mãos amigas nas quais segurar.
No meio desses acepipes bocaineiros um me vêm a mente e causa espécie. Era a lentilha de fim de ano ( arroz com lentilha) feito pela querida e saudosa Beth Vieira assessorada por seu companheiro Zé Bico. Cheirosa, bem temperada, com muita cebola sequinha e frita. Uma iguaria única. Me ufano de fazer um bom arroz com lentilha mas o da Betinha era insuperável para meu regozijo sempre e o das Celidonio sisters ( Claudia e Tania) amigas queridas, proprietárias do recanto bocaineiro que sempre dividiram o seu paraíso com os bons amigos.
Por que me lembro disso agora ? Porque noutro dia me referi aqui a um lado “Noruega” de nossas vidas numa alusão a um parágrafo de Pedro Nava. E minha amiga Bia Blandy, me convidando para um arroz com lentilha em sua casa, pespegou esse título no seu e-mail : "O lado lentilha de nossas vidas”. Bem posto. Por que o que seria de nós sem esse lado lentilha de congraçamento, encontro e cumplicidade ? Que seria de nós se apenas nublasse em nossos horizontes ? Nesse dia feinho não cheira lentilha minha casa. Mas na minha alma sim. Com uma sincera homenagem aos meus amigos verdadeiros.

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