O TEMPO DOS ENFADONHOS


O tempo dos enfadonhos

Diga o que disserem os inconstantes/ não sigo em linha reta/coluna ereta/ alma de poeta
o branco do teclado do piano foi alvejado de tinta
canções de morder os ossos são compostas
retalhos de antigos corações postos em postas

uma aroeira perde os galhos na chuva
enquanto Bach compõe ao ritmo dos ventos que trazem pó

ao deserto voltarei um dia
pois o que é o deserto além de alegoria ?

Seca boca , seco os olhos, o planeta não umedece
de que dor afinal a humanidade padece ?

Diga o que disserem os inconstantes
minha pátria é minha ingua , uma dorzinha fecunda
a falta de ar que me afunda

bote, boto um riso no rosto
navego, um barco no sismo estremece
lanterna na popa
outra na proa
estou ilhado na correnteza
minha destreza na verdade me trai
e fico à deriva
diga o que disserem os descansados
estou na estiva
nem tenho mais cabelos que me caiam na testa
me resta o tempo dos enfadonhos
aquele do qual extraio das frustrações
os antigos sonhos
pois eles sobrevivem
diga o que disserem os inconstantes...

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