CRÔNICA COM SANGUE NA VEIA

Paulo Mendes Campos, um dos arautos das crônicas com sangue nas veias
                  O prazer de ler um bom texto é um refresco.Essa é a impressão imediata ao se deparar com qualquer escrito do falecido escritor mineiro Paulo Mendes Campos evocado recentemente pelo cronista Xico Sá por conta de uma crônica que eu, modestamente,já homenageei. É uma perfeição chamada "O amor acaba".
    Por conta desse e outros escritos é impreciso referir-se a Paulo Mendes Campos como um falecido escritor mineiro porque apesar de pouco lembrado ele continua vivo e bem disposto ainda mais nesses tempos de cronistas pífios que parecem se envergonhar dos próprios sentimentos. 
    Hoje as crônicas parecem pragmáticas, artigos mirrados escritos pra satisfazer o gosto fast-food de certa platéia internética ávida por "aquis e agoras". Hoje os cronistas jogam para as suas torcidas, procuram nichos de mercado. Tem aquele que escreve sobre crises de homem-mulher, tem o que relata relatividades, tem o engraçadinho e tem a conselheira sentimental "papo -cabeça". Tem o memorialista sisudo, tem aquele que se dá a maior importância e tenta caprichar nos aforismos.Tem também o cronista chinelão de dedo que visa dar tom despretensioso e informal ao que escreve e tem o relaxado de boteco que parece redigir derrubando chopp quente e tira gosto morno sobre o teclado.
    Tudo bem que eu generalizo mas ando com saudade de crônica com sangue nas veias. Saudade do derramamento lírico e da palavra enquanto música que tem a harmonia de Paulo Mendes Campos,Rubem Braga e do também saudoso Carlinhos de Oliveira. Hoje me parece que a crônica vai ao shopping center, estaciona em vaga de idoso, faz um lanchinho na praça de alimentação e tem hora marcada pra voltar pra casa. É uma crônica asséptica,esterilizada,pré-programada para você rir mais ou menos gostoso quando você consegue.
   Eu quero de volta a crônica que corta os pulsos, que grita do alto do pico do Jaraguá,a crônica que incendeia a rotina e o tédio e não tem medo de ser melosa, amorosa,dengosa,raivosa. Quero de volta o prazer refresco de ler um bom texto exposto ao vento e à chuva.Um texto que sua, se perfuma e 1que fede.Cansei de crônica de ar condicionado. Se espírita fosse haveria de pedir correndo que o meu centro recebesse a escrita lírica de Paulo Mendes Campos.Quero crônica com sangue nas veias.

Comentários

Postagens mais visitadas