um mergulho a esmo em Boa Vista, Roraima

Os direitos são diferentes em Boa Vista e disso você se dá conta logo nos primeiros dias. A cidade é quente , plana, seca , tem madames pintadas e horrorosas e é dominada por um milico chamado Otomar , sujeito de maus bofes e cara do João Bafo de Onça das minhas remotas histórias em quadrinhos infantis.
Roraima ou Boa Vista não cabem na geografia dessa história mas aqui aparecem pelo simples fato de que foi ali , naquele estado e naquela cidade que surtei por causa do calor e enxerguei onde não havia um enorme conjunto residencial de apartamentos. Sucede que não existem muitos apartamentos em Boa Vista mas ao abrir a porta de um deles para levar quinino a um amigo com malária vi que ele delirava sobre um amor funesto e ali no seu emaranhado de delírios e martírios lembrava da ausência da própria mãe. Uma ausência que parecia dolorosa mas que para mim não fazia naquela ocasião o menor sentido. O caboclo delirava mas me dizia tudo isso com uma lucidez incrível. Era o lamento de um caboclo amazonense dito de maneira muito poética até. Um lamento pela ausência da sua mãe, um lamento dito com acentos nos locais corretos e com a convicção que só os delirantes tem mesmo. Esse caboclo recitativo em sua tertúlia de febril tinha bochechas muito inchadas e um rosto muito largo, moreno , dilatado o que lhe emprestava uma aparência de sapo-boi da beira de rio. Um sapo sem nome de sapo pois sua aparência nada tinha ver com seu nome : Weber

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