um mergulho a esmo no Jequitinhonha

foto : Franco Hoff

Seria pouco dizer que essa era apenas uma rota de buracos e fendas, de miséria e sujeira. Era na verdade o trajeto dentro de um imenso abandono. Um mergulho seco e feio no Vale do Jequitinhonha, nos grotões da pobreza profunda, do calor imenso que seca o couro das vacas magras e faz pular os ossos das crianças com vermes. Fui ali chacoalhando, costas doídas avançando pela paisagem agora diurna que se descortinava a minha frente. Fui seguindo adiante com a ciência de que desconheço o país onde vivo, as leis que o regem, o imponderável que nos transforma todos os dias em pessoas diferentes do dia anterior. Agora ali, saindo do sertão de Minas e penetrando no sertão da Bahia eu sabia que nada sabia e o que eu era jamais havia sido.
Muitos quilômetros depois e horas de caminho ruim me vejo diante de outro bar de posto. Ficava bem ali, na beira da estrada. A fervura do asfalto partido, aquele calorão poeirento só deixaria de incomodar lá pelas oito da noite quando a caminhãozeira começaria a estacionar de vez para a dormida. Eu tinha acabado de desistir da viagem até Feira. Finquei pé na minha desistência e resolvi ficar por aquelas paragens por onde um dia passou o mascate Xixi Piriá. Relevei o calor, o mormaço , umas moscas e num prazo de tempo que me pareceu até curto as lombadas do destino me levaram a uma mesa de pôquer onde eu conheci um bando sem líder e eu me achei um líder sem bando. Sem valentia, apenas na moral da sapiência formamos um bom grupo (...)

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