A infelicidade audiovisual em São Paulo

foto : Alex Almeida
                 Não são tempos felizes. São tempos de solidão. Essa é a idéia geral que pode se ter dos projetos audiovisuais de boa parte dos produtores jovens na cidade de São Paulo se eu for levar em conta minha participação como jurado em um grande edital lançado para premiar realizadores nas categoria curta -metragem e outras mais especificas. Nos curtas quase 120 realizadores disputavam uma verba bem razoável para realização dos seus trabalhos. Dez foram selecionados e observamos ( eu e os colegas do júri) como as pessoas, sobretudo as muito jovens, estão infelizes nessa cidade de São Paulo. Foi espantoso o número de projetos que versavam sobre a tal "DR" ( discutir relação) seja ela entre heteros ou homossexuais.
       Não bastasse o insistência na temática "DR" ela invariavelmente é proposta indoor, dentro de apartamentos a espreitar um certo cenário noir que a cidade não tem , convenhamos. E dá-lhe locação no centro velho e especialmente nos edificios Copan e Martinelli. Uma impressionante repetição,um impressionante mais do mesmo que costura parte dos projetos que curiosamente apontam as crises de relacionamento mas não suas saídas. As pessoas parecem infelizes, solitárias, perdidas embora tão jovens. Voltadas para seus umbigos em tediosos exercícios de experimentação audiovisual  com diálogos totalmente "fakes" entre os personagens. Como disse uma colega do júri mais que roteiristas faltam dialoguistas no cinema nacional.
          A nítida repetição de temas e situações aponta um curioso paradoxo. Os jovens tem conhecimento técnico e estrutural de como montar um projeto e como lidar com orçamentos. Conhecem ilhas de edição , tecnologia de ponta, câmeras de ótima resolução, kits de luz . São, enfim, craques em tecnologia e em formatação burocrática não só de projetos mas de roteiros. Em outra mão há uma latente crise de criatividade, uma inócua percepção do que nos cerca. Falta invenção, falta criação a bem da verdade . E salta aos olhos a falta de repertório textual. Nem digo literário porque isso é quase mosca azul, tal a raridade. Posso estar generalizando mas dá impressão que os realizadores de hoje em dia não gostam de ler. Por isso os roteiros são tão previsíveis e tantos temas são repetitivos. Posso até estar generalizando mas creio que uma amostragem de bem mais de uma centena de projetos aponta sim para uma direção. A da biblioteca. Pra fazer bom audiovisual ( acreditem) é preciso de certa dose de leitura. Mesmo que releitura. 

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