Kerouac no metrô

Kerouac revisando originais de "On the Road" no lendário rolo de papel de telex
            Talvez os dois meninos dentro do vagão da linha amarela do metrô desconheçam ou considerem um objeto jurássico aqueles rolos de papel de telex . Telex, papel carbono; mas o que é isso mesmo ? Talvez os dois meninos não tenham noção do que foi o tempo do bebop , do pé na estrada, do álcool, drogas, delírios pré-hippies , rota 66, longos percursos pela América dentro dos vagões de carga das ferrovias nos estertores dos anos 50. Talvez até mesmo os meninos desconheçam que Jack Kerouac escreveu seu lendário "On the Road" num daqueles rolos de telex como atesta a foto desse post.
      Mas isso não importa. O que me deixou tocado foi o papo dos dois meninos no primeiro vagão do metrô da linha amarela, rumo ao centro, que falavam com entusiasmo do livro de Kerouac e suas múltiplas edições brazucas. Um deles, um barbudinho, dizia ao mais magrinho sem barba que tinha três edições distintas do livro . E frisou :
     --- A que mais gosto é aquela que tem a capa preta, publicada pela L&PM .
      E eu penso : talvez porque ele não conheça a edição primeira de "On the Road no Brasil" sobre a qual escrevi uma reportagem nos anos 80 no Jornal do Brasil. Tinha uma linda capa de Takashi Fukushima (foto abaixo) e a tradução do Eduardo Bueno, o popular Peninha , que ficou famoso posteriormente por seus livros pop sobre história do Brasil. A editora era a então transgressora Brasiliense capitaneada pelo saudoso Caio Graco.
      Fiquei feliz por saber que os meninos ( não mais de 18 anos) discutiam com tanto entusiasmo o livro de Kerouac e criticavam o tom "comercial" do filme baseado em "On the Road" dirigido por Walter Salles e que está em exibição. Eu não vi o filme mas entendo o que os garotos queriam dizer. Meu precário otimismo de tiozinho de mais de 50 ficou um pouco aceso ao saber que numa manhã de  sexta friorenta, em pleno metrô paulistano, meninos discutiam com alegria a vida e a obra de Jack Kerouac ao invés de ficarem mirando (ou   ouvindo com fones nos ouvidos) com olhar de zumbis  gadgets virtuais a procura de um conteúdo perdido. Viva Kerouac  e a chama da eterna juventude. Viva os meninos que apontam para o futuro mas que sabem provar das boas  essências do passado.

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