Documentários. Para tv e para cinema

     

      Não quero começar com chorumelas mas é muito grande a diferença de tratamento que dão no Brasil a documentários feitos para a televisão e para cinema. Ambos são difíceis de serem viabilizados, são caros e não encontram o público que os quer assistir seja por desinteresse dos canais abertos (sobretudo) e dos fechados seja por dificuldades impostas pelo circuito exibidor que impõe uma série de restrições preferindo os mainstream de fora e agora o lixo local by Globo Filmes e sua estética de novela televisiva.
    A diferença entre eles começa na glamourização de tudo aquilo que é feito para cinema. Ou seja,  mesmo que um iniciante consiga um único dia numa única sala para um único espectador ele já se credencia como documentarista ou como "cineasta" ou "diretor" que é o epíteto que hoje em dia qualquer Zé Mané se auto atribui. Ter ido para o cinema rende mídia, mesmo que mínima, rende uma certa aura que o documentário para televisão não tem. Uma pena.
     A não valorização dos muitos documentários produzidos para a TV faz com que o grande público imagine que a produção do setor se circunscreva a aqueles poucos que conseguem levar seus documentários para o cinema. Ledo engano. Se o telespectador tiver paciência na peneira vai ver que todos os dias é possível assistir a documentários brasileiros feito por brasileiros e exibidos em canais brasileiros fechados.
     Nessa tarde mesmo descobri na Sesc TV ( que em passado recente produziu e exibiu grande parte dos meus documentários) um trabalho muito interessante chamado A Vitória dos Netos de Makunaimî   (clique aqui para mais informações)  que narra a história de povos indígenas, entre eles o Macuxi, que habitam a região da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no Monte Roraima – RR, tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana Francesa. Não conhecia o documentário e nem seus diretores, Marina Marcelo Herrero e Ulysses Fernandes.

  Cenário de Roraima , estado que bem conheço depois de temporada de 3 meses em 2002. Cenário sobre o qual pouco sabemos e que a televisão brasileira poderia ajudar a desvendar se abrisse um pouco mais a guarda para a produção nacional ainda compartimentada em nichos poucos. O cenário e a produção no gênero é esquizofrênica. Praticamente dirigimos documentários para serem assistidos por outros documentaristas e  candidatos ao gênero espalhados por festivais por aí.
     Tentei me desviar do caminho das chorumelas. Mas não consegui. Isso porque com anos de bagagem nas costas nem eu e nem uma penca de documentaristas de tv são reconhecidos como tal pelos cineastas e burocratas do setor audiovisual. Se você não lançou nada no cinema você não existe. Não existe meritocracia e a memória nessa seara é curta. Documentário exibido hoje está morto amanhã. Pergunto a mim mesmo se exagero ou se reflito a realidade. Por isso prefiro que vocês cotejem minha opinião com outros amigos que navegam nas mesmas águas como o simpático casal Kátia Klock e Maurício Venturi. 
    Nessa seara a gente é tão um "não autor" que as vezes chego a me envergonhar de dizer que também sou um documentarista visto que o mercado sempre me tratou como jornalista ou , vá lá, roteirista ou escritor. Até como apresentador de tv sou mais identificado do que como documentarista apesar dos meus mais de dúzia de documentários feitos e exibidos em várias emissoras desde 1989. 
      Por fim devo dizer que nessa terra de exceções e dificuldades estou feliz. Desde 2008 não conseguia ser pago para fazer documentários ou séries documentais mas nesse fim de 2012 abriu-se uma bela porta e já trabalho numa pré- produção para no mínimo 10 pequenos documentários a serem realizados e exibidos ainda no ano de 2013. No momento oportuno digo o canal que vai exibir isso e do que a série trata. Só digo isso porque realmente espero que o mercado se adapte logo às exigências de programação da lei 12.485 que diz que o horário nobre terá 50% de sua programação dedicado à produção nacional, dos quais 50% serão produzidos por produtoras independentes. Espero que as tais "produtoras independentes" não sejam apenas as grandonas do setor e que sobre trabalho pra todo mundo. E que o documentarista de tv que eu e muitos outros são tenha a mesmo peso e medida do que diletantes que fizeram um trequinho tosco para o cinema. Assim seja, amém.

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