MINEIRO HONORÁRIO ?



no trem Vitória -Minas a me deleitar com a beleza da paisagem e o horror da mineração 
In memoriam de Caetano Rodrigues um dos eixos do distrito de Ribeirão do Eixo, Itabirito, Minas Gerais...



    Chão de ferro, montanha de minério, queijo meia cura, avenida Afonso Pena , Serra do Curral, feijão tropeiro, sobrinhas mineiras, mulher mineira me fizeram enfim um mineiro honorário ? Vendo partir da praça da Estação, Belo Horizonte, um trem de recentes nostalgias que vai para Vitória mas me deságua em João Monlevade fico a pensar que quanto mais fujo de Minas mais ela se entranha em mim.
  Meus pais aqui estão sepultados num cemitério jardim a caminho do aeroporto dos Confins e busco significado nesses ossos aqui enterrados. Estão a me puxar para perto deles ? me querem em Minas finalmente ? Assim me rendo a Minas e às curvas da Br-040, aos perigos da Br- 262 , aos muitos caminhos de delícias por dentro do Mercado Central belo horizontino ?
   Nostálgico de um tempo que aqui não vivi enxergo Drummond e Pedro Nava a cruzar o viaduto de Santa Tereza, vejo o sorriso aberto de Fernando Sabino, a poética melancolia de Paulo Mendes Campos, o preciso e perfeito texto de Otto Lara Resende. Ainda vejo as prosas que tive  com Roberto Drummond no extinto CTI  da Savassi, olho com tristeza o hospital onde minha mãe padeceu na rua Sergipe, me perco nos contornos da avenida do Contorno e acho feio o anel viário em torno de BH e mais feia ainda a avenida Amazonas.
     Em nada combinam os nomes de escritores que batizam feios e áridos viadutos na Cristiano Machado. Por outro lado adoro partir Minas adentro. Que seja para o próximo Ribeirão do Eixo onde me esperava o Caetano e sua matutice regada a cachaça e bom humor que ele próprio fabricava num alambique bucólico. Um Ribeirão agora mais sem graça depois que Caetano partiu mas onde ainda me aguarda meu sogro Zé Geraldo ,um semeador de otimismo mesmo que as circunstâncias sejam cinzentas.
   Adoro partir para Minas adentro. Que seja para a distante Januária onde o ar cheira a cachaça e linguiça frita. Não me sinto daqui  mas aqui me acomoda com desajeitamento .É como se todos se espremessem dentro de um vagão lotado para dar lugar a mais um passageiro que de alguma forma merece estar aqui. Não sei se como prêmio, não sei se como castigo. Mas me pespegam na pele a tatuagem de mineiro.
   Caraça, Serra da Piedade, Barão de Cocais, nascente do rio São Francisco, tradição e ruptura , Santana dos Montes, Catas Altas, Piranga, Lamin, Lafaiete, Congonhas, Manhumirim, quantas paisagens lindas e medonhas aqui já vi nesse estado paradoxo que se enfeia e se embeleza conforme a reza ?
   A tradicional ou a usual família mineira  se senta à minha mesa. E com susto percebo que eu é que estou longe deles.  Eles estão perto de mim. Aqui em Minas estou sem nunca ter estado. Parece que minha sina é ter essa imensidão de terra e de montanha do meu lado. 

Comentários

Patrícia disse…
Coisa mais linda homenageando o sogro e o saudoso Caetano, né, meu amor?
Agora só falta a gente ir morar lá procê virar mineirim de vez! :-)
Bjssss da sua mineira

"Por outro lado adoro partir Minas adentro. Que seja para o próximo Ribeirão do Eixo onde me esperava o Caetano e sua matutice regada a cachaça e bom humor que ele próprio fabricava num alambique bucólico. Um Ribeirão agora mais sem graça depois que Caetano partiu mas onde ainda me aguarda meu sogro Zé Geraldo ,um semeador de otimismo mesmo que as circunstâncias sejam cinzentas."
Ricardo Soares disse…
Entre as coisas boas que Minas me deu Patrícia ( lindeza) talvez a mais linda tenha sido você...mesmo que isso soe de uma pieguice enorme não tem como dizer até porque Minas me devia isso depois de tantos dissabores...tanto que já quase estou assumindo a cidadania honorária...hehehe...bjss
Patrícia disse…
hehehe suas irmãs e sobrinhas vão amar ouvir isso! já assumiu e fica despistando...
bjsssss

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