A síndrome de Fla-Flu


    

 O embate radical de opiniões assentou praça nas redes sociais e passou a ser simbolizado pela rixa Fla-Flu, antológica no futebol brasileiro. Muitos se apropriaram dessa metáfora para definir as rinhas diárias no twitter e sobretudo no Facebook na época da tolerância zero entre opiniões divergentes. O tema providencial foi levado à capa da revista de “O Globo” no domingo  (10-11-2013) e dá conta que estamos numa triste nova era: a de que todos tem opinião formada sobre tudo. Mas, pior, ninguém é metamorfose ambulante.Se fosse, teria a humildade sim de rever conceitos e até (pasmem) mudar de opinião. 

     Recentemente o embate de opiniões contrárias e radicais foram por conta das manifestações de rua pelo país, testes clínicos em animais , o programa "mais médicos" do governo federal e o tal "procure saber", movimento restritivo a biografias não autorizadas. Nesses assuntos, como em outros que se renovam todas as semanas, vale tudo pra desqualificar o adversário. Xingamentos, dedos nos olhos e a inevitável acusação simplista: se você critica o governo é tucano e se o elogia é petista. Como se o debate político nacional se circunscrevesse a uma espécie de disputa entre boi Garantido e boi Caprichoso lá de Parintins.

  O principal de toda essa situação preocupante é a certeza que as pessoas não ouvem ou não leem os argumentos contrários. Em nome da discórdia o que vale é o primeiro enunciado, a primeira leitura, a manchete, a primeira impressão. Mesmo que o “lead” diga uma coisa e o resto o contrário o que vale mesmo é o “lead” ou a manchete. Aconteceu virou manchete como diria o velho slogan do grupo Bloch. 
   O que preocupa além do próprio Fla – Flu são alguns dos partidários das primeiras impressões que assinam petições falsas por conta de má informação colocando sua credibilidade em jogo conforme fez recentemente o cineasta Fernando Meirelles que no seu twitter deplorou o fato da TV Brasil ter censurado o “Roda Viva” com Marina Silva, fato que não aconteceu. Como todos sabem, um grave problema técnico fez com que aquele “Roda Viva” não pudesse ser transmitido ao vivo naquela segunda. Foi ao ar 24 horas depois, na íntegra. Mas a teoria conspiratória e os julgamentos precipitados já se alastravam nas redes sociais que viraram verdadeiros tribunais inquisitórios onde todos os dias reputações são jogadas na fogueira sem direito a recurso.
  O que vale na rapidez das redes sociais é o preceito de primeiro se manifestar sobre tudo e depois se informar de fato. Quem não fez isso uma única vez que atire a primeira pedra. A tentação é muito grande e ninguém quer ficar por fora. Tudo é muito acelerado, não há espaço para reflexão e aí as opiniões colidem em mãos contrárias e a verdade é sempre a primeira vítima. Ninguém consegue mudar a opinião de ninguém e defende-se cegamente teses tortuosas simplesmente para não se perder o jogo.
   Se por um lado esses milhões de seres virtuais opinativos contribuem para a democratização da informação por outro lado esse chiclete com banana faz com que todos os dias no Brasil as pessoas embarquem e remem em canoas furadas. E evidente que tudo isso é turbinado nas próprias redes sociais, em blogs , portais e mídias convencionais por articulistas hidrófobos que não estão a serviço de isenção alguma. São soldados pagos das suas causas. Por mais equivocadas que elas sejam.
Redação Dom Total
(publicado originalmente no portal DOM TOTAL em    http://www.domtotal.com/noticias/691748 )

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