SALINGER E UM DIA NA NORMANDIA DE 1944


    Muitos são os caminhos históricos que levam à Normandia e ao desembarque dos aliados em 6 de junho de 1944 quando começa o fim da insanidade nazista que varreu o mundo. Meus caminhos até lá começaram cedo quando lembro de ver numa velha estante de casa revistas sobre o assunto que meu pai guardava nos anos 70. Desde então aquelas praias não sairam do meu imaginário pessoal .
   De 23 a 25 de maio passado eu desembarquei por lá , alguns dias antes da efeméride dos 70 anos da data, cheio de expectativas, e desde então só tenho tido surpresas. É muito forte, com o perdão do clichê, estar num lugar tão emblemático que faz parte da história da humanidade. Não se consegue pisar naquelas areias sem ficar pensando em quantos homens ali caíram, dali jamais se levantaram. A gente tem a impressão que o sangue ainda chega em ondas e que qualquer placidez de quem observa é injusta na medida que o sentimento que ali cabe parece ser mais a estupefação.
  Guardei a areia da praia de Omaha dentro de um vidrinho, andei por ruas que no passado se desintegraram, visitei museus e procurei reconstituir caminhos como já fizeram milhões de turistas esses anos todos. Os fatos que ocorreram na praia de Omaha, Utah, Juno, Gold e tantas outras historicamente foram ontem . O cemitério impressiona, a paisagem impressiona, a história impressiona. Mas o que mais me impressionou naqueles dias recentes foi o fato da estupefação geral estar fora da sincronia europeia onde se observa o crescimento alarmante de nazistas, fascistas e nacionalistas que querem a volta daquilo que foi combatido pelos soldados que tombaram no dia D.
   Na minha modesta peregrinação por aquela data e pela geografia local acabei tendo a curiosidade turbinada pelo assunto e na volta comprei dois livros a respeito e de cara fiz uma descoberta impressionante que me deu a medida de minha ignorância sobre a maioria dos soldados que ali desembarcaram e pereceram. Um deles foi simplesmente J.D. Salinger , mítico autor de um clássico do século 20 , “ O Apanhador no campo de centeio”. Salinger, o homem que influenciou corações e mentes de várias gerações com seu imortal Holden Caufield trazia junto ao peito grande parte dos originais do livro quando desembarcou na praia de Utah no 6 de junho de 1944. Ou seja, se uma bala nazista tivesse explodido o peito de Salinger naquele dia a história da literatura contemporânea seria outra. Certamente um pouco mais pobre. Esse é o fascínio da História com agá maiúsculo senhores e senhoras. Sempre descobrir algo novo sobre um fato velho. Sempre descobrir que somos ignorantes e que não há limites para nosso aprendizado. A propósito descobri as nuances de Salinger e seu desembarque na praia de Utah ( que visitei em 25 de maio) na biografia do autor que está disponível nas melhores casas do ramo e tem como autores David Shields e Shane Salerno. Recomendo.

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