OS POLÍTICOS TOMATES AMASSADOS




 (publicado originalmente no portal  DOM TOTAL em    DOM TOTAL)


Por Ricardo Soares*

Embora adore ler ensaios nunca me atrevi a cometê-los. Aliás, já os cometi sim. Alguns poucos. Mas tive a sensatez de não publicá-los muito embora com toda essa enxurrada de textos e agressões durante o período eleitoral ( e agora, depois dele) os dedos coçam para escrever algo mais caudaloso e menos superficial sobre o nosso desprezo pela política e pelo fazer político. Sim, porque só nosso desprezo pelo tema justifica termos chegados a esse ponto. De fim de roda da história com poucas opções para escolher entre os menos piores.

A política, notadamente no Brasil, parece reservada na sua maioria a dar destaque a quem não teria o menor destaque no mundo intelectual ou empresarial. Ficamos com os tomates amassados, com os restos do tacho ao que parece. Porque parece que, ao menos e com certeza no Congresso Nacional, nunca tivemos uma configuração tão deplorável de seres humanos. Eleitos por nós na sua maioria muito embora alguns tenham ali chegado por força dessas coligações absurdas e de um número enorme de legendas de aluguel.

Se os institutos de pesquisa, com suas combalidas reputações, resolvessem ir a campo fazer pesquisas sobre política como conceito no Brasil acredito que apurariam que uma maioria significativa crê, com convicção, de que política trata-se de uma atividade medíocre e suja , que deixa longe e repele os honestos trazendo para o seu colo principalmente as nulidades e os malandros ( com ou sem gravata) que enxergam na atividade uma maneira rápida de fazer amigos, influenciar pessoas e ganhar muito dinheiro. O desprestígio da política no Brasil hoje é um caso de polícia, literalmente. Pena que nem todos sejam presos e nós vejamos para cima e para baixo meliantes disputando mandatos e inventando desculpas horrendas para as suas artimanhas.

A classe política tem uma péssima imagem. Nossos melhores marqueteiros creio que não conseguiriam dar conta de melhorar essa imagem enxovalhada que fixa no nosso inconsciente e consciente cenas deploráveis de dólares sendo guardados em cuecas, recebidos em pacotes,transações e comissões nojentas sendo negociadas com câmeras escondidas. Às favas o bem público, os cidadãos honestos perseguidos pela voracidade do imposto de renda.

Talvez esse descrédito generalizado faça com que a política no Brasil, o fazer cívico, não atraia os nossos melhores. Senão como explicar a ascensão e queda midiática de tipos que estariam melhor colocados dentro de camisas de força como os patéticos Collor de Mello, Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e demais aberrações? E isso só para citar três “singelos” exemplos de desequilibrados patológicos.
Infelizmente a opinião pública nacional chegou à certeza de que a política é uma atividade de pessoas imorais, sem sentimentos ou palavras de honra , ineficientes e sem compromissos. Talvez por isso tantos se acusam tanto de todos os lados. Não sobrando nada de bom para gregos, troianos, baianos , paulistanos, petistas e tucanos . É preciso, antes de mais nada, reabilitar a credibilidade política para refundar a credibilidade. Do contrário estaremos na areia movediça por prazo indefinido.

* Ricardo Soares é diretor de tv, jornalista, roteirista e escritor. Escreveu, entre outros livros , o romance “Cinevertigem” e os infanto-juvenis “Valentão”, “O Brasil é feito por nós” e “ Falta de Ar”. Foi cronista do “Estado de S.Paulo”, “Jornal da Tarde” e “Diário do Grande ABC”.

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