Diário da meia idade 1 – não gosto de Mary Poppins

        Chegou 2015 e você descobre que não gosta mesmo da Mary Poppins, da Noviça Rebelde , da Julie Andrews nem da Sally Field e nem da grande maioria das atrizes brasileiras. Você descobre que o calor já passou da conta e o seu peso também e no meio do torpor vespertino de janeiro você se dá conta que virou um chato corriqueiro.
  A política nativa continua a ser uma fonte constante de dissabores nacionais e todos se assemelham nas suas conveniências , fisiologismos, grandes e pequenos banquetes de corrupção. Muitos idiotas ainda não desceram do palanque e embora já estejamos em 2015 continuam a discursar 2014. Uma preguiça macunaímica”se apossa de mim. 
  O terrorismo põe de novo suas garras de fora na sua Paris querida e tira o brilho das férias de tantos seres humanos que querem viver o sonho da cidade eterna. Vinhos azedaram, queijos talharam, baguettes murcharam nesse começo de ano ainda pouco alvissareiro. 
  Não me proponho aqui e agora a escrever memórias mas deixar correr o dedo no teclado registrando minha passagem sobre a Terra nesse meio de meia idade tentando fazer um diário que não tenha obrigação de ser diário , se é que vocês me entendem. Pretendo aqui não entrar no terreno da ficção muitas vezes- óbvio- o real seja uma ficção bem posta à mesa e com sobremesa.
  Novas manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus acontecem em São Paulo enquanto estou longe, cercado por uma brisa morna e mineira que chega de noitinha após ondas de calor. Novas enchentes afligem São Paulo, sobretudo a zona Leste, enquanto me deleito com um certo clima seco com raras pancadas de chuva bem esparsas. 
   Estão escarafunchando mais e mais as montanhas de Minas Gerais. Aqui perto mesmo de onde estou a tenebrosa Ferrous promete com gosto devastação em breve com a desculpa- sempre ela- de gerar empregos. Parece que não há mesmo futuro para as boas paisagens e nem para as recordações perenes. O país continua sempre a desprezar sua memória. Principalmente a memória de sua paisagem. O antigo não tem graça , o antigo não tem vez.Talvez por isso eu registre isso tudo. Para ter a memória de mim mesmo. Antes tarde do que nunca. 


10 de janeiro de 2015- Ribeirão do Eixo- MG

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