A defunta infanta literatura brasileira

     


   Com ou sem contexto sou um escritor bissexto. Redundo pra explicar que sou um escritor que pouco publica e muito escreve e já passei anos de minha vida tentando entender o procedimento que talvez seja uma excessiva autocensura aliada a uma preguiça em ficar atrás dos meios e dos fins que fazem quem quer que seja se tornar um escritor conhecido. Nem digo reconhecido. Digo conhecido mesmo , no sentido midiático do termo.
     Na era do "deus mercado" onde qualidade não conta e sim a oportunidade eu me omito da participação nisso tudo não porque considere o que produzo como algo melhor. Mas talvez considere que nada tenho a acrescentar ou tenho um senso de ridículo que muitos sequer chegam perto diante de tantas bravatas literárias que espalham por aí como se fossem inventores da modernidade, da novidade e por aí vai.
      Durante quase uma década estive à frente de um programa de televisão que rastreou a literatura brasileira. Dei o meu "holofotezinho" para iluminar gregos e baianos, gente com e sem talento . Também durante minha longa trajetória profissional escrevi resenhas e reportagens sobre escritores e livros e considero , modestamente, que tenho um certo conhecimento da literatura nativa . Por isso , talvez, seja bissexto. Porque me impressiona semana a semana, mês a mês, o quanto escritores e escritoras brasileiras se colocam em alta conta e nada oferecem em troca além da mesmice, da repetição de fórmulas, das falsas e inócuas novidades. Estamos, isso sim, numa aridez implacável repleta de presunçosos que não leram as gerações anteriores e nem os contemporâneos e se dizem portadores da "boa nova". Qual o que.
     Quem cala consente . Isso quer dizer que não me calo e nem consinto com tanta estupidez. Mas, e daí num país que se está tão fraco de escritores que dirá de críticos ? Salvo raras exceções, mas muito raras mesmo, não temos uma literatura de experimentação porque isso o mercado não quer. Não temos literatura de entretenimento porque não temos competência para fazer. Não temos literatura que proponha novos caminhos porque perdemos os antigos. O que fazemos então ? Fazemos de conta que há uma certa inquietação, inventamos premiozinhos, feirinhas e Bienais inócuas para fazer de conta que somos uma pátria que escreve bem e fingimos que o "deus mercado" assimila a nossa criatividade literária . Mercado de livros não quer dizer "bons livros". Nesse cesto, sem a menor pretensão, prefiro continuar bissexto.

Comentários

Postagens mais visitadas