MUDOU LOBÃO OU MUDAMOS NÓS ?

     




    SOCI@L MAGAZINE . Esse é o nome do fanzine virtual lançado essa semana pelo Carlos Henrique Sartori, Pé de Milho,jornalista que conheci nas priscas eras do Metrópolis na Tv Cultura em fins dos 80. Ele teve a ideia, fez alguns convites e os coleguinhas responderam. Aí está o primeiro número de uma nova revista, digital na essência, ou impressa se o leitor quiser imprimir. (LEIA AQUI) Fanzine analógico era uma coisa muito em voga em décadas passadas e no meu tempo de estudante e foca de jornalismo participei de vários. Achei muito legal participar de um eletrônico agora. Boa sacada. Eu compareço com um texto falando sobre o Lobão que passou a balir ao invés de uivar ultimamente. Afinal , mudamos nós ou mudou ele ? Relembro de um encontro em 1987 ( entre vários que tivemos) para finalizar essa capa da revista HV que eu então editava e cuja capa está acima. Republico o texto aqui, abaixo. Ou se preferirem vão direto ao SOCI@L MAGAZINE que tem várias boas surpresas por lá.


   

MUDOU LOBÃO OU MUDAMOS NÓS ???

      Bom , se uma revista virtual como essa me dá a honra de me pedir um texto embarco então num trocadilho e passo em “revista” certo passado “cultural”. E olhem que coloquei aspas nos dois termos visto que não sei se estou falando de cultura mesmo. Aliás, faço uma pergunta, para começar : “Lobão é cultura ?” . 
     Deixando de lado a enorme antipatia que o roqueiro vem angariando nas redes sociais e fora dela por conta de suas posições conservadoras e algumas absolutamente disparatadas não dá para negar que ele já foi visto como notório desafinador do coro dos contentes, um cara que parecia dizer o que pensava tanto a favor quanto contra certos ícones da música popular brasileira e sobre assuntos variados no atacado e varejo naquela então remota mercearia de grandes novidades de fins dos anos 80. Se a obra dele não é aquele colosso de Rodes e nem vai ficar para a posteridade como uma das sete maravilhas do mundo antigo não se pode negar que muitos uivos lancinantes do velho Lobo se fizeram ouvir muito bem em passado nem tão remoto assim. Cito a seguir um dos meus encontros, ou melhor “experiências”, com o Lobão em tempos idos e vividos.

     Num inverno remoto, em 1987, numa tarde fria e de solzinho morno como o que faz agora no momento em que escrevo, passei horas conversando animadamente com o Lobão no hall de um hotel da rua Frei Caneca em São Paulo. Era a finalização de uma matéria- perfil com ele para a capa da extinta revista HV ( Humor e Verdade) da qual eu era editor – chefe e pertencia à Carta Editorial, a mesma que publicava então a VOGUE e a CASA VOGUE. Quem bancava a revista era o finado e saudoso Andréa Carta, filho do também finado Luis Carta, irmão do Mino. Elogio em causa própria é vitupério mas posso dizer que a revista era bem ousada para a época e inspirou tantas outras que vieram depois. E não sou eu que digo isso. Mas o assunto aqui são os uivos remotos do Lobão.
     Recém-chegado aos 29 anos ( eu tinha 27) ele encontrava larga margem na mídia para propagar suas idéias e ideais que, digamos assim, estavam muito mais próximos de anarquistas e esquerdistas do que os marombados fascistas que hoje o seguem pelas redes sociais e nessas toscas manifestações pró impeachment. O resultado de nossa epopéia, longo papo final molhado em dulcíssimo pileque de Frangelico, virou capa dessa HV que vocês podem ver . A matéria levava o nome de “O Pulo do Lobo” e tinha essa singela abertura , escrita por esse que vos fala na flor da petulância dos 27 anos :
   “ Esse Lobão jamais correria atrás dos três porquinhos naquela história boboca que conhecemos. Tampouco estaria na xaropada melodramática de Chapeuzinho Vermelho, papando a vovó e esperando passivo, na cama, para ser mutilado por um caçador justiceiro. Esse Lobão pode até ser mau para alguns e amedrontador para outros.Principalmente porque foge dos clichês, das histórias com finais banais e previsíveis . Na era da informática e da robótica , onde as crianças morrem de rir das fábulas, esse Lobão cibernético é avesso a maniqueísmo , morde todas as regras e já uivou : o rock errou” .
     Isso posto, tantos anos depois dessa conversa, dessa capa de revista, podemos dizer que foi o rock que errou ou foi Lobão ? toda “essa estúpida retórica vai durar 100 anos”? para citar aqui um trecho de Caetano Veloso em quem ele batia forte na HV de 1987 e para quem até hoje não dirige as palavras mais gentis ? Como foi que ele se transformou do transgressivo que chacoalhou o bom mocismo nacional , o artista que desafiou a indústria do disco e foi vender Cds em bancas de revista ( entre outras proezas) a involuntário líder de uma alcatéia de imbecis que não estudaram história ?
Podem dizer até que faço minha leitura ( que não é definitiva) de Lobão em cima de simpatias ideológicas. Aceito. O que não consigo entender são os motivos que levaram esse artista talentoso trilhar caminhos tão áridos e distantes do tema liberdade&anarquia&confusão. Lobão deixou de ser um estilhaço libertário dos anos 70 para virar um estilhaço das bombas de gás jogadas contra a oposição durante os anos 70? Eu não levo o Lobão para a inquisição. Não serei o Torquemada da minha geração com os faróis voltados pra trás. Mas que dá uma grande impressão que o Lobão pegou a fábula errada , isso dá. Para o mal, a vida bandida parece ter sido banida.

Comentários

Thiago Alvez disse…
Se ele mudou ou não, não posso dizer, mas andando junto com Olavo de Carvalho não ajuda a imagem dele.

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