A ÁFRICA NA SUA TELEVISÃO

     


   Sempre acreditei que a comunicação pública deva dar "janela" a conteúdos que não encontram espaço em outras emissoras. Isso vale tanto para rádio quanto para televisão. Acreditei e continuo a acreditar que comunicação pública de qualidade se faz com integração entre a rede de emissoras públicas do país e com exibição de filmes, séries e programas que dificilmente teriam espaço em outros canais. Assim pensava, assim penso e assim pensei enquanto estive à frente da Diretoria de Conteúdo e Programação da EBC. É preciso que a comunicação pública busque sua identidade nesse cipoal de novas tendências e mídias onde as próprias tvs abertas e fechadas precisam se reinventar se não quiserem deixar de existir. Ao menos como as conhecemos. Nesse contexto então a comunicação pública ainda tem desafios ainda maiores,muitos passos a dar porque , no que tange a televisão principalmente, ela não sabe se deve seguir as normas e regras de televisões comerciais e abertas ou se tenta seguir o modelo vencedor da BBC que passa ( por questões políticas inglesas) por reavaliação.
       Fiz a introdução porque vejo com alegria que nessa semana a Tv Brasil coloca no ar uma série de filmes africanos de qualidade. É algo para se comemorar como também terem exibido recentemente  a primeira novela africana exibida entre nós, a angolana Windeck. Sem exagero , isso é histórico. Mas um conjunto de fatores faz com que essas ações não sejam notadas e muito menos noticiadas como se , no caso, não trabalhassem na Tv Brasil uma porção de profissionais sérios e dedicados que gostariam de tirar a emissora do limbo da audiência. No entanto a flagrante má vontade da mídia com a Tv Brasil e toda a EBC ( Empresa Brasil de Comunicação) faz com que todas as ações legais que lá aconteçam não reverberem. Nem as produções próprias, nem as adquiridas, nem as co-produzidas. Poucos sabem que por força da lei 8666 qualquer processo de aquisição na EBC é um parto com forceps. Poucos conhecem essas dificuldades internas e é muito bem vindo um seminário que em breve vai acontecer justamente para discutir o modelo institucional que rege a EBC .
          Por não excluir o mercado mas achar que ele deve ter janela em outras emissoras ( notadamente quanto falamos de cinema) procurei orientar os que trabalhavam comigo no sentido de abrir nossa janela de exibição principalmente para a África, Oriente Médio, Europa Oriental, América Latina, Irã, Ásia onde se produz um conteúdo audiovisual incrível e muito pouco visto se comparado ao que assistimos oriundo dos Estados Unidos e Europa Ocidental. Como esse processo na EBC é longo só agora se colhem os frutos e eu gostaria que eles fossem mais assistidos embora não esteja mais na empresa.
Encontro de cinema negro ano passado no Rio. Joel Zito Araújo à direita.
   No caso da África nosso empenho foi ainda maior. Em março do ano passado a partir da abertura do Encontro de Cinema Negro - Brasil, África e Caribe- realizado no Rio de Janeiro e com participação ativa de cineastas de toda África e do nosso brasileiro Joel Zito Araújo estreitamos nossos laços com o que os realizadores vinham fazendo em trabalho organizado por Sahada Josephina, profissional designada para trazer a África para dentro do conteúdo da EBC. Assumimos um compromisso público de que a África estaria entre nós.Foi um passo inicial importante para a prospecção dos filmes que agora os telespectadores podem assistir até o final dessa semana com produções de Moçambique, Angola , Senegal , Serra Leoa...(confira programação completa aqui). 
    Ainda são poucos filmes e espero que a Tv Brasil reprise esses e traga outros mais. Mas sei o quão difícil são os processos internos de aquisição. Sou otimista e espero que os novos dirigentes da empresa que tomarão posse em outubro estejam muito mais voltados às questões de conteúdo, produção e programação. Afinal uma fábrica de parafusos faz parafusos. Uma rede pública veicula e produz conteúdo de interesse público. Tudo mais é equívoco de quem enxerga comunicação como uma instituição bancária. Mas essa é outra prosa. O importante é festejar a chance (rara) de poder assistir em tv aberta filmes que só veríamos em mostras muito específicas. Para encerrar onde comecei: a grande função da comunicação pública é dar janela ao que não tem janela em outros veículos. E , nesses tempos de crise, torço para que a comunicação pública viva em breve dias melhores.

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