OS LIMITES DA NORMALIDADE

Pintura de Jonas Burgert
     Para êxtase de certa parte da mídia sangrenta a Grande São Paulo amanheceu com mais uma onda de morticínio não muito longe da região onde moro,extremo da zona oeste.Entre Barueri e Osasco,noite passada, 20 seres humanos foram assassinados e apesar da grita geral isso é, infelizmente, encarado como "normal".
    A tragédia nos faz pensar: quais são os limites da normalidade? Ironicamente o ar seco faz com que uma imensa camada cinza cubra a região metropolitana, triste metáfora dos tempos "Mad Max" que vivemos.
    Mortos se acumulam em calçadas, bares periféricos. Cadáveres se espalham não apenas entre os bairros populares e continuamos a assimilar isso como "normalidade".Nossa percepção do que é normalidade é cada vez mais elástica. Saímos todos os dias convivendo com a morte que nos espreita em tarefas cotidianas como se isso fosse normal. Não é. Talvez por isso seja tão reconfortante sair do país vez ou outra para metrópoles ou cidades onde ir ao açougue ou a barbearia não se transforme numa aventura similar a andar pelas estradas mortais do Iraque.
     No país vivemos tempos de descrença nas instituições. Escândalos de corrupção, legislativo bandido, desonestos triunfando, nulidades prosperando.Esse discurso evidentemente não combina com otimismo e as boas palavras que precisam ser escritas ou ouvidas. Mas urge que nos indignemos mais e não sigamos achando que é normal que a barbárie se institucionalize.Isso sepulta nossa humanidade e só faz sorrir os titulares dos sangrentos programas televisivos que lucram sempre com o sangue que corre e com a violência que incitam. Para isso devíamos bater não apenas panelas mas caldeiras gigantes. Algo vai muito mal quando saímos às ruas para protestar contra ciclovias enquanto é o vermelho de sangue real que tinge as nossas calçadas.   

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