GIRA A POMBA


   Gira a pomba. Pomba, a gira. Como se fala em Portugal. Mundo ilegal. Gira a pomba, sobrevoa, o ramo de paz no bico sobre a praia desolada que acolhe o morto menino sírio no meio de uma semana em cujo final preces percorrem os hemisférios e os esotéricos engasgam de tristeza.
   Gira a pomba. Pomba, a gira. Nessa tarde soubemos que dois inocentes foram assassinados por policiais nas escadarias da Catedral da Sé. Assim não dá pé teima a rima sem fé. Os fortes ainda choram , os fracos escondem as lágrimas e as desculpas lustram corrimões de acesso ao inferno.
   Gira a pomba. Pomba , a gira. Onde vai o conta-gota da paciência , o som da paz, os limites da velocidade da tolerância ? Vestimos capacetes e vamos para as ciclovias. Dos carros nos atiram ovos. Novos povos serão concebidos para que outras notas cheguem aos nossos ouvidos ?

  Gira a pomba. Pomba , a gira. Em Mumbai, Katmandu, Budapeste ou norte da Síria os anjos recolhem as asas. Exaustos tornam às suas casas. Os infernos em nós mesmos espevitam todas as brasas. Estamos sozinhos planando sobre o que sobrou ou o que era doce ainda não se acabou ?

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