POR DENTRO DO SANTO



Desceu aos pés do santo 
e o santo tinha sandálias puídas
Desceu porque estava em cima, 
e aí encontrou uma escada
e desceu por dentro dele,
conhecendo as entranhas do santo

Aí viu que o santo era santo mesmo porque não gemia nem chorava com tanta gente dentro dele

lhe cavucando os rins e o coração

O santo tem pulmão de aço e sabe respirar debaixo d'água e nada em todo açude

e multiplica as romãs e as redes de dormir

E ele desceu por dentro do santo todo e desviou de olhar a genitália do santo

porque santo  não "cruza" e nem cobiça mulher

E da urina do santo se faz um bom remédio 

que cura " as vistas" e os ossos

e ele foi descendo por dentro  e deu de cara com o joelho do santo que resolveu ajoelhar e ele quase seria  esmagado

mas o santo desistiu de ajoelhar 
e ele desceu pela canela e o tornozelo 
e aí percebeu que logo chegaria aos pés 
que tantas léguas caminharam

E enfim aí ele viu as sandálias puídas 

de um couro velho e sagrado 
de vacas há muito mortas
que nunca "embezerraram" 
pois dos currais debandaram 

Aí ele desceu aos pés do santo

beijou aqueles pés suados e cansados,
pés santos de homem santo
e aí olhou para cima  e viu que o santo não tinha cabeça embora troncos e membros tivesse

Então ele olhou ao redor  e não muito longe se avistava  a cabeça do santo jogada com um montão 
de gente dentro 
que lhe saía pelas orelhas

A "gentarada" enchendo os ouvidos do santo

cujo nariz purgava,
resfriado dos sentidos que não compreendia
porque um santo matuto 
tinha um corpo desmembrado
quando sua fé é firme e coesa,
nunca é presa do demônio
bicho triste e ladino 
nessa história um clandestino...

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