amigos que viraram adubo...

       
foto de Guilherme Longo
     Ah, sim , antes que eu me esqueça. O ano é 2017. É sim história  datada. O mês é fevereiro e nesse dia , nessa hora, fico pensando em que momento São Paulo se fodeu. Aliás penso em que momento recente de nossa história o Brasil se fodeu. Porque não é uma questão de ideologia, é uma questão de história. Escrita com minúsculas pois nunca , nesses tempos recentes, fizemos o favor de tornar a nossa história maiúscula .
       Maiúscula ou minúscula não acredito que lá na frente esse nosso período seja estudado como algo que nos levou adiante. Estamos no lodo do retrocesso com o país sendo tocado e destrinchado por bucaneiros, aventureiros, predadores que com dentes de hiena repartem em risos histéricos a carne flácida da nação.
       A canalha ri da nossa cara, dos nossos gestos de desespero, da nossa indignação. E se você achar que isso é literatura militante, de resistência ou derivados, paciência. É registro de um momento . Como disse é sim datado. Afinal por não termos datado tanta coisa viemos dar na fossa em que estamos.
       Apesar de tudo isso estou aqui com os olhos postos na tela, também olhando para um jardim que floresce ao meu redor lá fora e para a chuva com sol que está caindo sobre uma samambaia. Penso em amigos que já viraram adubo, naqueles que desistiram, naqueles que escreveram e não publicaram, naqueles que publicaram e se embutiram, naqueles que simplesmente partiram. No meio disso passo pelas curvas da estrada que levam de Guaratinguetá a Cunha e entro na cidade das cerâmicas em busca de um amigo oculto no meio de umas matas , rodeado por sete cachoeiras. Desistiu de São Paulo , foi tocar uma pousada e tratar melhor da Aids mas não achou força pra fazer tudo isso junto e ainda mais concluir um romance bucólico que dormiu anos em uma gaveta e que se chamava “ Na cacunda do lagarto”. Os originais sumiram e rogo para os que o encontraram me enviem uma cópia porque desconheço a versão final. Só sei que tinha uma cena que se passava justamente nas escadarias da Paulista onde meu amigo e os amigos dele mijaram de pé num domingo de carnaval.                                    
                                Resultado de imagem para lanchonete puppy                 O nome da lanchonete que ficava do outro lado das escadarias da Paulista era Puppy. Isso mesmo . Nome de cadela de fascista? Ou nome de cachorrinha de madame ? tanto faz não é ?  Só sei que freqüentávamos uma lanchonete fajuta com nome de cachorra e de lá observávamos a vida e o movimento com mais autoridade do que se estivéssemos sentados nas cadeiras da faculdade de Comunicação  Social Casper Líbero que ficava justamente no prédio acima das escadarias. ( um dia segue...)

Comentários

Postagens mais visitadas