Reflexões pós dia do jornalista


Imagem relacionada
     Duas postagens de dois colegas jornalistas que freqüentam redes sociais me fazem cometer essas linhas que pressinto serem perda de tempo para todos os envolvidos. Quem escreve e quem as lê. Mas, vamos lá.
         Roger Modkovski, um dos jornalistas, disse com bom humor que virou jornalista porque leu “O Manual do Peninha” e por ter lido uma entrevista de  Jorge Amado onde  ele era questionado  sobre o que seria recomendável ao  jovem que quer ser escritor. O autor de “Gabriela” tascou: "arranje uma profissão próxima à literatura, como o jornalismo". Roubada , segundo o Roger. Corroboro.
Comigo deu-se o mesmo. Quando percebi que gostava de escrever e queria viver disso resolvi ser jornalista porque era a profissão mais viável para se viver escrevendo já que escritor mesmo – salvo as exceções de praxe- não ganha para pagar sequer a conta da luz que usa pra escrever os seus rabiscos. Virei jornalista sem saber que a profissão ia dar nesse desfiladeiro árido e anódino no qual se converteu hoje em dia. Mas, como diz o Roger “neste cenário de disruptura que é o jornalismo do século 21, resta-nos nos agarrar ao que sobrou de bom na profissão”. No caso dele e no meu  acho que é ter aprendido a fazer perguntas. Sempre perguntei demais para obter respostas de menos. Mas assim cheguei onde estou. Perguntando nesse desfiladeiro recebendo o eco oco como resposta. Para onde iremos como profissão, como brasileiros, como seres humanos no momento em que jornalistas mais se parecem com publicitários como lembra meu amigo (publicitário) Fernando Costa ?
Assim sendo chego à reflexão sobre o “nosso dia” feita pelo Guilherme Zwetsch, ainda jovem talento que se incomoda com o tal dia do jornalista e diz "desculpem a chatice habitual, mas vamos parar com essa bobagem de "dia do jornalista" (até porque tem uns 798 dias do jornalista por ano). É uma profissão que morre a cada dia, estrangulada pelos interesses econômicos de sempre. Seria muito mais útil se metade dos meus colegas que aqui se dedicam a ficar escrevendo coisas como "eu amo contar histórias", decidisse lutar pela melhoria dos salários da categoria, por exemplo. A gente não conta história faz tempo. A gente ganha mal e tenta ser minimamente honesto. Ninguém me perguntou, mas é isso que eu acho”.
Guilherme achou muito bem. Esse pastiche do “eu amo contar histórias” que jornalistas bobinhos escrevem (mal) por aí é um clichê medonho imposto inclusive pelo padrão global das novelinhas das nove. A gente não conta história faz tempo. Conta ( mal) as histórias que nos permitem contar de um jeito padrão e pasteurizado onde todas as reportagens (escritas, faladas, televisadas) parecem ter saído da mesma matriz corporativa chata. Quando um sujeito encadeia uma frase padrão a gente já adivinha o que vem a seguir.  Assim depois dos pitacos do Roger e do Guilherme  e dos meus que pouco acrescentaram resta encerrar com o clichê dos clichês dessa era do jornalismo distópico: é preciso de reinventar. Seja lá o que isso signifique. Por enquanto parece ser apenas a extinção de um ofício que parecia muito digno para aqueles que,como eu,escolheram o jornalismo como caminho viável para andar perto da literatura. No mais, escrever é preciso.

Comentários

Postagens mais visitadas